A ideia do livro surgiu a partir de uma necessidade de representação. Uma necessidade de se sentir integrado. Amarildo Felix, além de escritor é, também, um leitor voraz. E no decorrer dos diversos livros que leu ao longo dos anos ele foi percebendo que, apesar da beleza e da poesia de alguns deles, não havia uma diversidade que o incluísse. A grande maioria das personagens na literatura brasileira cumpre um perfil: Um homem branco, heterossexual, intelectualizado, sem deficiências físicas ou doenças crônicas, membros da classe média e moradores dos grandes centros urbanos.
Em nada esse perfil de personagem diz respeito a Amarildo Felix, um homem negro, gay e nordestino. O livro “Literatura Afeminada” nasce para preencher essa lacuna.
Assim, a temática principal do livro gira em torno da construção de uma nova “musa”, uma musa para além do padrão já estabelecido dentro da nossa Literatura. Esta temática começou a ser desenvolvida já no primeiro livro do poeta, Sotaque/Sintoma, publicado em 2017 pela Editora Patuá, em que os poemas de versos livres falavam das vivências e desencontros de um amor homoafetivo em uma grande cidade. Havia também a proposição de uma discussão geracional a partir do entendimento do amor sob a perspectiva de uma juventude mais acostumada e conformada com desencontro e a solidão do que propriamente com um relacionamento afetivo consumado.
O livro de poemas Literatura Afeminada continua nesta linha de raciocínio, no entanto, neste livro, a musa inspiradora ganha um corpo: um homem negro gay afeminado. A partir das vivências do poeta enquanto homem gay negro nordestino e afeminado é que parte a matéria prima dos poemas que compõem este livro. Foi de uma constatação doída – a falta de representatividade, sobretudo na Literatura – que partiu o desejo e o ímpeto da escrita dos versos deste livro. A construção desta nova espécie de musa é sobretudo um alento, uma forma de direcionar o afeto de um corpo negro, quase sempre rechaçado à solidão, ou, pior: reduzido a um órgão sexual. A musa, em seu significado mais abrangente, é aquela figura (geralmente uma Mulher) que é responsável por trazer a inspiração para o poeta. A coletânea de poemas reunidos neste livro amplia este conceito ao construir uma outra espécie de musa, para além do estabelecido e naturalizado; uma musa possível e concreta, uma musa capaz de ser despertada em qualquer corpo, em qualquer um de nós.
O livro conta com um texto de orelha do artista visual, poeta, curador e atual gestor da Biblioteca Mário de Andrade, Jurandy Valença. Além deste texto inicial, o livro conta ainda com um prefácio do escritor Marcelino Freire, que define o livro – e o seu autor – como a “fina flor que faltava na Literatura Brasileira”.
LANÇAMENTO
“Literatura Afeminada” foi lançado em março de 2022, mais especificamente no dia 21, uma segunda-feira. O evento foi organizado pela Caboclas Produções e foi realizado no Café, Bar e Livraria Yerba, que fica localizado no bairro da Santa Cecília, em São Paulo. Amarildo encara o lançamento de um livro como um nascimento, uma festa e, sobretudo, uma possibilidade de
reencontro, principalmente depois dos dois últimos difíceis anos.